As infeções do trato urinário (ITUs), mais conhecidas como infeções urinárias representam uma das condições bacterianas mais frequentemente diagnosticadas, afetando significativamente a população em Portugal.
As infeções urinárias são mais prevalentes em três faixas etárias: recém-nascidos do sexo masculino e em crianças até aos 6 anos, mulheres jovens e sexualmente ativas e idosos com mais de 60 anos. Estima-se que uma em cada cinco mulheres adultas (20%) tem pelo menos um episódio ao longo da vida.
O que causa as infeções urinárias?
As ITUs são mais frequentemente causadas por bactérias que ascendem através da uretra para qualquer parte do sistema urinário (bexiga, ureteres, rins).
As causas mais comuns de infeção urinária são:
- Gravidez;
- Hiperplasia benigna da próstata;
- Diabetes Mellitus;
- Obstrução da via urinária;
- Hábitos de higiene inadequados;
- Alterações hormonais;
- Doenças neurológicas;
- Infeções sexualmente transmissíveis.
As bactérias mais comummente envolvidas são a Escherichia coli (principal agente de infeções urinárias), Staphylococcus saprophyticus (particularmente em mulheres jovens e sexualmente ativas), Klebsiella pneumoniae, Proteus mirabilis e Enterococcus faecalis.
Quais são os fatores de risco associados às infeções urinárias?
Existem diversos fatores que podem aumentar o risco de desenvolver ITUs, nomeadamente:
- Anomalias funcionais e estruturais do trato urinário: impedem o esvaziamento completo da urina, resultando em estase e criando um ambiente propício para o crescimento bacteriano. No que diz respeito ao sexo masculino, o exemplo principal é a hiperplasia benigna da próstata;
- Cateterismo urinário: facilita a entrada de bactérias no trato urinário. É a causa mais comum de infeções urinárias a nível hospitalar;
- Sexo: o risco de infeção varia consoante o sexo. No sexo masculino existe maior risco em bebés não circuncisados enquanto que, no sexo feminino há maior predisposição para infeções urinárias, pois a uretra é mais curta que a do homem e encontra-se mais próxima do ânus;
- Atividade sexual: as ITUs não são infeções sexualmente transmissíveis, mas a atividade sexual aumenta o seu risco, pois pode facilitar a entrada de bactérias na uretra;
- Métodos anticontracetivos: o diafragma e os espermicidas também aumentam o risco de infeções urinárias;
- Alterações hormonais: ao longo da vida a mulher passa por diversas alterações hormonais que facilitam o desenvolvimento de ITUs. Exemplos:
- Gravidez: há maior probabilidade de estase urinária e de refluxo vesicoureteral;
- Menopausa: há alteração da flora vaginal e da proteção natural contra bactérias.
Como se classificam as ITUs?
As infeções urinárias são classificadas e tratadas com base na localização, gravidade e frequência.
A presença de sintomas distingue a ITU da bacteriúria assintomática (presença de bactérias na urina sem sintomatologia associada) que apenas necessita de tratamento em casos específicos.
De acordo com a localização, as infeções urinárias dividem-se em:
- Infeções do trato urinário superior: quando há envolvimento dos rins e ureter (pielonefrite);
- Infeções do trato urinário inferior: quando há envolvimento apenas da bexiga (cistite) e/ou uretra (uretrite);
De acordo com a gravidade, as infeções urinárias dividem-se em:
- ITU complicada: ocorrem em pacientes com fatores de risco para infeção, nomeadamente, no sexo masculino, gravidez, crianças e anomalias estruturais e funcionais do trato urinário.
- ITU não complicada: ocorrem em mulheres não grávidas e quando não existem fatores de risco.
Tendo em consideração a frequência, são consideradas infeções urinárias recorrentes quando ocorrem 3 ou mais episódios num ano, ou 2 ou mais episódios em 6 meses.
Sintomas de infeções do trato urinário superior:
- Febre e calafrios;
- Dor lombar ou dor nos flancos;
- Náuseas e vómitos;
- Mal-estar geral e cansaço;
- Urgência urinária e dor ao urinar;
- Urina turva ou com sangue.
Sintomas de infeções do trato urinário inferior:
- Aumento da frequência urinária (polaquiúria);
- Dor ou ardor ao urinar (disúria);
- Urgência urinária;
- Dor no baixo ventre ou pressão pélvica;
- Sensação de esvaziamento incompleto da bexiga;
- Urina turva, com cheiro forte e/ou com sangue.
De forma geral, as ITUs inferiores não apresentam risco imediato para o paciente, enquanto que as ITUs superiores carecem de avaliação médica célere devido ao risco de complicações graves.
Como é realizado o diagnóstico?
O diagóstico de infeções urinárias inicia-se com uma avaliação clínica detalhada, seguida da realização de testes laboratoriais que permitem identificar a presença de microrganismos patogénicos e avaliar a sua sensibilidade aos antibióticos. O diagnóstico é fundamental para a implementação de um tratamento eficaz e para prevenir potenciais complicações.
Avaliação clínica
A avaliação clínica inclui uma anamnese completa onde são recolhidas informações sobre os sintomas urinários, antecedentes pessoais de infeções urinárias, uso de cateteres urinários e possíveis fatores de risco, como Diabetes mellitus ou alterações anatómicas ou funcionais do trato urinário. A presença de sintomas como disúria, polaquiúria, urgência urinária, dor suprapúbica e febre são muitos sugestivos de ITU.
Exame físico
O exame físico inclui a realização de palpação abdominal para avaliar a presença de dor ou sensibilidade que podem sugerir uma cistite ou pielonefrite.
Análise de Urina (Urina tipo II)
A análise de urina é o teste inicial para o screening de ITUs. A presença de nitritos (indicador da presença de bactérias que convertem nitratos em nitritos) e esterase leucocitária (enzima indicadora de inflamação) são marcadores importantes para o diagnóstico. O exame microscópico de urina pode revelar a presença de bactérias (bacteriúria), leucócitos (leucocitúria), eritrócitos ou cilindros leucocitários, que sustentam o diagnóstico.
Urocultura
A urocultura é o procedimento padrão para o diagnóstico de infeções urinárias pois permite identificar o agente causador. Uma contagem de colónias superior a 10^5 UFC/mL é indicativa de infeção urinária, embora valores mais baixos possam ser considerados em determinados contextos clínicos, como no caso das grávidas e transplantados renais. Contudo, é sempre necessário correlacionar a informação clínica com os resultados obtidos, de forma a distinguir entre uma ITU de uma colonização.
Antibiograma
Após a identificação do agente causador é realizado o antibiograma que permite avaliar o perfil de sensibilidade da bactéria a diferentes antibióticos. Este passo é essencial para combater a resistência aos antibióticos e garantir a eficácia terapêutica.
Imagiologia
Em casos de infeções urinárias recorrentes ou complicadas, pode ser necessário realizar exames de imagem, como a ecografia renal e/ou vesical, para avaliar a presença de anomalias estruturais ou obstruções que estejam a causar infeções urinárias recorrentes.
O diagnóstico das ITUs requer uma abordagem integrada que combine a avaliação clínica com testes laboratoriais específicos. A identificação do agente causador e a sensibilidade aos antimicrobianos são essenciais para um tratamento eficaz, para minimizar o risco de complicações e evitar resistências aos antibióticos.
Qual o tratamento para infeções urinárias?
O tratamento das infeções urinárias é direcionado para o alívio dos sintomas, erradicação da infeção e prevenção de recorrências. A escolha do tratamento depende de vários fatores, incluindo a gravidade, o tipo de infeção, a presença de condições subjacentes e a suscetibilidade do microrganismo patogénico aos antibióticos.
Para infeções urinárias não complicadas, como a cistite aguda em mulheres saudáveis, os antibióticos de primeira linha incluem nitrofurantoína e fosfomicina, com a duração do tratamento variando entre um único dia a cinco dias, dependendo do agente patogénico.
As infeções complicadas, onde se incluem as ITUs em homens, crianças, grávidas, e pacientes com anomalias do trato urinário ou com dispositivos urinários, podem requerer antibióticos com espetro de cobertura mais amplo e duração de tratamento mais prolongada.
Nos casos de ITUs recorrentes podem ser consideradas estratégias preventivas, como a profilaxia antibiótica de baixa dose e mudanças no estilo de vida, incluindo medidas de higiene urinária adequadas. Quando as ITUs estão associadas a condições subjacentes, como a hiperplasia benigna da próstata ou cálculos renais, o tratamento dessas condições é fundamental para prevenir recorrências.
Como prevenir as infeções urinárias?
Algumas estratégias eficazes que podem ajudar a reduzir o risco de desenvolver infeções urinárias são:
- Aumentar a ingestão de líquidos, especialmente água, ajuda a diluir a urina e a garantir que bactérias e outros microrganismos sejam eliminados do trato urinário mais eficientemente;
- Realizar uma higiene íntima adequada. Após micção, fazer a limpeza genital da frente para trás pode prevenir a transferência de bactérias da região do ânus para a uretra;
- Evitar a utilização de produtos de higiene íntima, pois estes podem causar irritação da uretra;
- Urinar regularmente e esvaziar completamente a bexiga;
- Urinar logo após a relação sexual, pois ajuda a expulsar bactérias que possam ter sido introduzidas na uretra;
- Incluir na dieta o consumo de arandos (sumo ou cápsulas), tem sido associado à prevenção de ITUs, graças à sua capacidade de impedir que bactérias se fixem nas paredes do trato urinário;
- Ingerir alimentos ricos em probióticos, como iogurte e kefir, pode ajudar a manter um equilíbrio saudável da microbiota e prevenir o crescimento excessivo de bactérias patogénicas;
- Optar por utilizar roupas íntimas de algodão e evitar o uso de roupas muito justas pode diminuir a humidade na área genital, reduzindo o risco de proliferação bacteriana;
- Consultar o seu médico para avaliações regulares, especialmente se tiver histórico de infeções urinárias recorrentes, para ajudar a identificar e tratar fatores de risco subjacentes.
As infeções urinárias, embora comuns, são condições que podem ser eficazmente geridas com o diagnóstico correto e tratamento adequado. Se tem estado a sentir algum dos sintomas acima descritos, recomendamos que entre em contacto com um profissional de saúde, para garantir um tratamento eficiente e evitar complicações.
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