Artigos de Blog

Leucemia Linfocítica Crónica (LLC)

10 Janeiro 2025


A Leucemia Linfocítica Crónica (LLC) é uma neoplasia hematológica caracterizada pela proliferação clonal e acúmulo de linfócitos B anómalos na medula óssea, sangue periférico, gânglios linfáticos e baço. É a leucemia mais frequente em adultos nos países ocidentais, representando cerca de 30% de todas as leucemias.

Epidemiologia

A LLC é um distúrbio linfoide maligno que afeta predominantemente indivíduos do sexo masculino com idade média ao diagnóstico de 70 anos. Apenas 9,1% dos doentes com LLC têm menos de 45 anos. A incidência aumenta com a idade, sendo mais elevada em indivíduos caucasianos, especialmente em países ocidentais e rara em países asiáticos, sugerindo uma componente genética e ambiental na sua etiologia.

Fatores de risco:

  • Idade
  • Exposição a produtos químicos (pesticidas, herbicidas)
  • História familiar
  • Género.

Fisiopatologia

Na LLC, ocorre uma transformação maligna dos linfócitos B, resultando no aumento da sua produção e consequente acumulação na medula óssea, sangue periférico, gânglios linfáticos e baço. Com o tempo, esta acumulação pode levar a esplenomegalia, hepatomegalia e sintomas sistémicos como fadiga, febre, sudorese noturna e perda de peso não intencional.

Sinais e Sintomas

A clínica é heterogénea. Muitos doentes com LLC são, numa fase precoce, assintomáticos e o seu diagnóstico é realizado de forma acidental aquando realização de um hemograma de rotina que apresenta linfocitose. Quando presentes, os sintomas podem incluir fadiga, fraqueza, perda de apetite, perda de peso, febre e sudorese noturna. A linfadenopatia é comum, podendo ser localizada ou generalizada. Pode também ocorrer esplenomegalia e hepatomegalia.

Diagnóstico

Na maioria dos casos o diagnóstico é estabelecido através da realização de hemogramas com contagem diferencial, esfregaço de sangue periférico e imunofenotipagem.

  •     Hemograma com leucograma: linfocitose absoluta – contagem igual ou superior a 5.000/ μL por pelo menos 3 meses;
  •     Esfregaço de sangue periférico: presença de uma população de linfócitos de pequena dimensão com cromatina madura; é característica a observação de sombras nucleares, designadas como manchas de Gumprecht;
  •     Citometria de fluxo: identifica a clonalidade das células B circulantes e o seu perfil imunofenotípico característico (CD5+, CD19+, CD20+, CD23+);

A biópsia de medula óssea não é necessária para o estabelecimento do diagnóstico. De forma geral, realiza-se para avaliação de infiltração medular, especialmente nos casos de citopenias. 

Estratificação de risco

Existem dois sistemas para estadiamento clínico – Classificação de Rai e Classificação de Binet.

Sistema de Binet
Estádio ABaixo riscoAté 2 áreas com adenopatias; Hb ≥10 g/dL e contagem de plaquetas ≥100×109/L
Estádio BRisco intermédio3 ou mais áreas com adenopatias ou organomegalias; Hb ≥10g/dL e contagem de plaquetas ≥100×109/L
Estádio CRisco elevadoHb <11g/dL e/ou contagem de plaquetas <100×109/L

Devido à evolução no tratamento da LLC, os dois sistemas de estadiamento clínico tornaram-se insuficientes para distinguir subgrupos de prognóstico. Além disso, tornou-se essencial considerar alterações genéticas e cromossómicas que fornecem informação prognóstica independente. Para tal, criaram-se scores que tivessem em consideração tais informações.

O score mais relevante é o Índice Prognóstico Internacional (IPI), que inclui cinco fatores de prognóstico independentes: deleção e/ou mutação de TP53, estado mutacional de Immunoglobulin Heavy-chain Variable region Gene (IGHV), β-2-microglobulina sérica, estádio clínico e idade.

Categoria IPISobrevida aos 5 anosTratamento
Baixo risco93,2%Não é necessário tratamento
Risco intermédio79,3%Não é necessário tratamento exceto se sintomatologia presente
Alto risco63,3%Indicado tratamento exceto se doença assintomática
Risco muito alto23,3%Indicado tratamento

Tratamento

O tratamento da LLC vai depender do estádio da doença, sintomas e características genéticas das células leucémicas. Nos casos assintomáticos ou de progressão lenta, pode ser adotada uma abordagem de “vigiar e esperar”. Quando o tratamento é necessário, as opções incluem quimioterapia, imunoterapia e terapias alvo dirigidas, como inibidores da tirosina-quinase (TKI) e inibidores da proteína BCL-2. A escolha do tratamento deve ser individualizada, considerando fatores como idade, comorbilidades e alterações genéticas específicas.

Prognóstico

O curso clínico da LLC é heterogéneo. Alguns pacientes apresentam uma progressão lenta da doença e uma esperança de vida semelhante à da população geral, enquanto outros podem evoluir rapidamente para estádios mais avançados. Fatores prognósticos, como o estado mutacional do gene IGHV (Immunoglobulin Heavy-chain Variable region Gene) e a presença de mutações no gene TP53, são úteis para prever a progressão da doença e orientar as decisões terapêuticas.

A LLC é uma doença complexa com uma apresentação clínica variável. O diagnóstico precoce e a avaliação adequada dos fatores prognósticos são essenciais para a gestão eficaz da doença. A individualização do tratamento, baseado nas características clínicas e genéticas de cada paciente, permite otimizar os resultados terapêuticos e melhorar a qualidade de vida dos doentes.