A hepatite pelo vírus C é uma das mais importantes infecções crónicas em todo o mundo, afectando 3% da população mundial, isto é, 170-200 milhões de pessoas.
É ainda a causa mais frequente de cancro do fígado e de transplante hepático nos países desenvolvidos. Em Portugal, estimam-se que existam cerca de 100 mil pessoas infectadas, ocorrendo como consequência da doença um número aproximado de mil mortes anuais. É pois um problema de saúde pública que merece uma estratégia concertada, atuante e eficaz.
A hepatite C é, por alguns, chamada de “doença silenciosa”. Tal relaciona-se com o facto da maior parte dos doentes infectados não terem qualquer queixa ou sintomas atribuíveis à doença, ao longo de vários anos. Habitualmente, quando as queixas se manifestam, já a doença se encontra num estádio avançado, com um prognóstico mais reservado. Sabe-se que 30 a 40% dos casos não tratados ou ineficazmente tratados, evoluem gravemente para cirrose, que é uma situação clínica grave e irreversível, cujo tratamento sustentado é apenas o transplante de fígado.
Acresce que nos doentes com cirrose, o aparecimento de cancro do fígado, situação de muito mau prognóstico e com elevadíssima mortalidade, ocorre 10 a 40% num espaço de tempo de 10 anos. Por todas estas razões, o desejável é que a doença seja tratada eficazmente numa fase tão precoce quanto possível.
Contudo, o diagnóstico atempado encerra duas limitações: por um lado o facto de, como atrás foi dito, a doença ser assintomática durante vários anos e por outro o facto de um terço dos doentes não ter factores evidentes de risco para o contágio que sofreu, não se chegando mesmo a qualquer conclusão quanto à identificação do mesmo. Sabe-se que um historial de transfusões de sangue anteriores ao ano de 1990, consumo prévio de drogas ou contacto com sangue contaminado são factores de risco aumentado para a transmissão, mas num número significativo de casos tal nunca existiu e a infecção é uma realidade.
Por tudo isto se sugere que pelo menos uma vez na vida as pessoas façam o teste, uma vez que além do mais se trata de uma simples análise sanguínea que pode ser efectuada ao mesmo tempo de outras análises efectuadas habitualmente. A partir daí a situação real estará conhecida e a estratégia mais adequada poderá ser equacionada.
Uma das grandes evoluções da medicina contemporânea prende-se com o tratamento da hepatite C. Em 1985, os primeiros tratamentos revelaram uma eficácia de 5%. Com o evoluir dos tratamentos disponíveis, a eficácia aumentou significativamente estando hoje em valores que poderão permitir a cura em 80 a 90% dos casos, com curtos tratamentos de 12 semanas. Mas igualmente importante são os avanços referentes à segurança da medicação administrada e à diminuição dos efeitos colaterais da mesma, que modernamente se pode fazer apenas por via oral, sem injectáveis, com efeitos mínimos sobre a qualidade de vida de quem a está a utilizar.
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