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SIBO: o teste que revela o que o seu intestino esconde

31 Outubro 2025

Small Intestinal Bacterial Overgrowth (SIBO) é caracterizada pela proliferação excessiva de bactérias no intestino delgado, o que compromete os processos de digestão e absorção de nutrientes, resultando em múltiplos sintomas gastrointestinais.

Qual a etiologia?

Trata-se de uma patologia complexa e multifatorial, que surge por falha de mecanismos de defesa, que tornam o intestino delgado vulnerável à proliferação bacteriana. 

Mecanismos de defesa que mantêm a homeostase intestinal:

  • Válvula ileocecal patente: impede a translocação de bactérias do colón para o intestino delgado;
  • Ácidos biliares: atuam como detergentes, inibindo o crescimento bacteriano por ação nas membranas das bactérias;
  • Enzimas pancreáticas: degradam produtos bacterianos no intestino delgado;
  • Ácido gástrico: reduz a sobrevivência das bactérias ingeridas, limitando a sua chegada ao intestino delgado;
  • Motilidade do intestino delgado (nomeadamente do complexo motor migratório): evita a estase bacteriana, assegurando a “limpeza” do intestino delgado durante o jejum;·      
  • Sistema imunológico (incluindo IgA secretora): limita a adesão e proliferação de bactérias na mucosa intestinal.

Quais as manifestações clínicas?

Inespecíficas, podem surgir devido à má absorção de nutrientes, fermentação bacteriana excessiva no intestino delgado, alteração da permeabilidade da mucosa intestinal. Cerca de 2/3 dos pacientes apresentam os seguintes sintomas:

  • Flatulência
  • Náuseas
  • Astenia
  • Distensão abdominal
  • Desconforto ou dor abdominal (frequentemente tipo cólica)
  • Alternância entre diarreia (mais frequente) e obstipação

Nenhum sintoma isolado permite o diagnóstico de SIBO, pois trata-se de uma síndrome. A persistência ou recorrência dos sintomas devem motivar a marcha diagnóstica.

Em casos avançados, pode ocorrer anemia e défices nutricionais como diminuição da absorção de vitamina B12 (com valores de folato normais ou até aumentados, devido à produção bacteriana do mesmo), bem como perda de peso e esteatorreia (uma vez que as bactérias promovem a desconjugação dos sais biliares, comprometendo a formação das micelas e a absorção de gorduras). Estes quadros avançados estão frequentemente associados a outras patologias sistémicas ou a cirurgias realizadas. 


Recomendações para o diagnóstico:

A suspeita diagnóstica de SIBO nem sempre é evidente, uma vez que a clínica é sobreponível a outras patologias, nomeadamente, Síndrome do Intestino Irritável, Doença de Crohn, pancreatite crónica e ainda devem ser tidos em conta fatores de risco individuais do paciente.

Segundo as recomendações do Colégio Americano de Gastroenterologia, o diagnóstico pode ser feito por: 

  •  Aspiração e cultura de conteúdo do intestino delgado proximal: quantificação objetiva de bactérias que crescem em cultura. É um teste invasivo, moroso e caro, que acarreta necessidade de sedação e os riscos inerentes à endoscopia; contudo o procedimento técnico é simples. O limite para definição de cultura positiva tem sido controverso entre os especialistas da área, contudo recentemente, o Consenso Norte Americano apontou para uma maior precisão utilizando o cut-off de ≥103 unidades formadoras de colónias por mililitro (UFC)/mL num aspirado duodenal/jejunal. Febre ligeira (que pode ser mais grave no adulto)
  • Teste respiratório: baseia-se na medição quantitativa de hidrogénio e/ou metano exalado após ingestão de quantidade fixa de glicose, ou lactulose. É um teste não invasivo, indolor e fácil de executar. Recentemente foram publicados os critérios para definição de um teste positivo: aumento de hidrogénio expirado em pelo menos 20 partes por milhão (ppm) acima da linha de base e/ou aumento do nível de metano no ar expirado em pelo menos 10 ppm nos primeiros 90 minutos do teste, em comparação com o valor no ponto 0 ou com o valor mais baixo observado nos primeiros 90 minutos do teste, após a ingestão de 75 g de glicose ou 10g de lactulose. 


O papel do Aqualab no diagnóstico de SIBO

No nosso laboratório é possível realizar o teste de ar expirado para o estudo de sobrecrescimento bacteriano. 
Embora seja um teste não invasivo e de fácil realização, a acuidade diagnóstica do mesmo depende de uma preparação rigorosa de modo a evitar interferência nos resultados.

É contraindicado a execução do exame para utentes que nos 30 dias anteriores à colheita da amostra tenham realizado procedimentos invasivos como colonoscopia ou enteroscopia. A antibioterapia não é critério de exclusão, contudo, deve ser tido em consideração aquando da interpretação e valorização do resultado.

Alguns cuidados que também devem ser respeitados antes da realização da colheita, são:
  • 7 dias antes da colheita o utente não deve utilizar laxantes, probióticos ou fármacos procinéticos;
  • 24 horas antes da colheita recomenda-se excluir da dieta os hidratos de carbono, alimentos ricos em fibras, frutos secos, refrigerantes ou bebidas gaseificadas, leite e derivados e alimentos com açúcar e/ou adoçante;
  • Jejum de 12 horas;
  • Não fumar pelo menos 2 horas antes, idealmente 8 horas;
  • Não realizar exercício físico 30 minutos antes;
  • Se tiver episódio de diarreia no dia da colheita deve questionar o seu Médico.

Cuidados a ter durante o exame:

  • Enxaguar a boca antes da realização de cada colheita;
  • Não mascar pastilha elástica, não comer, beber, fumar ou praticar exercício.

Como se realiza o teste?

O teste consiste em recolher o ar que a pessoa expira em oito momentos diferentes: no início (0 minutos, valor basal) e depois aos 15, 30, 45, 60, 90, 105 e 120 minutos após a ingestão do substrato. A toma da solução (que contém o substrato) deve ser feita durante 2 minutos.

Antes de cada recolha, deve lavar bem a boca apenas com água. Em seguida, deve inspirar profundamente, manter o ar nos pulmões durante 5 a 10 segundos e depois colocar o canudo no tubo correspondente ao tempo indicado. Deve soprar até esvaziar completamente os pulmões, garantindo que o canudo é retirado totalmente do tubo ao terminar.

Este procedimento é repetido em cada um dos momentos indicados para recolher as amostras de ar necessárias. É aconselhado registar os sintomas apresentados durante a realização do teste.

Princípio do teste e metodologia

O teste baseia-se na medição de gases no ar expirado, geralmente hidrogénio (H₂) e/ou metano (CH₄), produzidos pelas bactérias do intestino após fermentação de certos açúcares.

Em condições normais, esses gases são produzidos em pequenas quantidades, mas quando há crescimento excessivo de bactérias no intestino delgado, a fermentação começa mais cedo e os níveis desses gases aumentam rapidamente, sendo depois expelidos pelo ar. 

A metodologia utilizada é Gas Chromatography–Mass Spectrometry (GC‑MS), que integra duas etapas principais:

  1. Primeira fase: a amostra é vaporizada e passa por uma coluna cromatográfica onde os diversos compostos são separados de acordo com a sua volatilidade e afinidade;
  2. De seguida, cada composto separado entra no espectrómetro de massa, onde é ionizado, fragmentado e os fragmentos são analisados segundo a sua razão massa/carga (m/z). O padrão resultante permite identificar e quantificar com elevada precisão os compostos presentes na amostra.

A realização do teste respiratório para o diagnóstico de SIBO, constitui uma etapa fundamental para a interpretação de sintomas gastrointestinais inespecíficos e para a orientação terapêutica adequada.

Agende já o seu teste respiratório e dê o primeiro passo para compreender melhor o funcionamento do seu intestino.