1. O que é a Hepatite B?
A Hepatite B é uma doença do fígado, provocada por um vírus.
A doença faz com que o fígado fique inflamado e deixe de funcionar corretamente. Este órgão desempenha muitas funções importantes, entre as quais, o combate às infecções e hemorragias, elimina os medicamentos, drogas e outras substâncias tóxicas da corrente sanguínea. Também é responsável pelo armazenamento de energia, libertando-a progressivamente entre as refeições ou quando necessário.
2. Qual é a causa da Hepatite B?
A Hepatite B é causada pelo Vírus da Hepatite B (VHB), descoberto em 1965.
É a mais perigosa das hepatites e uma das doenças mais frequentes do mundo, estimando-se que existam 350 milhões de portadores crónicos do vírus. Estes portadores podem desenvolver doenças hepáticas graves, como a cirrose e o cancro no fígado, patologias responsáveis pela morte de um milhão de pessoas por ano em todo o planeta; contudo, a prevenção contra este vírus está ao nosso alcance através da vacina da hepatite B que tem uma eficácia de 95%.
O vírus provoca hepatite aguda num terço dos atingidos, e um em cada mil infectados pode ser vítima de hepatite fulminante. Em menos de dez por cento dos casos em que a infecção ocorre na idade adulta, a doença torna-se crónica, verificando-se esta situação mais frequentemente nos homens. Em Portugal, calcula-se que existam 150 mil portadores crónicos do VHB.
3. Como posso contrair a Hepatite B?
O vírus transmite-se através do contacto com o sangue, sémen e fluidos corporais de uma pessoa infectada, da mesma forma que o vírus da imunodeficiência humana (VIH), que provoca a Sida, só que o vírus da hepatite B é 50 a 100 vezes mais infeccioso do que o VIH.
Existe também a possibilidade de transmissão de mãe para filho, no momento do nascimento, uma forma de contágio especialmente grave, dada a grande tendência de evolução para a cronicidade e que é muito comum nas zonas hiperendémicas de países em desenvolvimento, onde a maior parte dos infectados contrai o vírus durante a infância.
Nos países industrializados, esta faixa etária é a que se encontra mais «protegida» já que a vacina contra a hepatite B faz parte do programa nacional de vacinação de 116 países, Portugal incluído. No mundo ocidental, Europa e América do Norte, o vírus é transmitido, sobretudo, aos jovens adultos por via sexual e através da partilha de seringas e outro material de injecção entre os utilizadores de droga endovenosas.
Resumindo, pode-se contrair a Hepatite B através de:
- Ter relações sexuais desprotegidas com pessoas infectadas;
- Partilha de seringas entre os consumidores de drogas;
- Ao realizar uma tatuagem ou perfuração corporal com instrumentos sujos ou mal esterilizados usados previamente com outras pessoas;
- Uma picada acidental com uma agulha contaminada com sangue infectado (o pessoal de saúde pode contrair a Hepatite B desta forma);
- Viver com alguém que tenha a Hepatite B;
- Partilha de objectos pessoais (como escova de dentes, lâminas de barbear) com uma pessoa infectada;
Não se contrai a Hepatite B através de um aperto de mão, de um abraço a uma pessoa infectada, ou se se sentar junto de uma pessoa infectada.
4. Quais são os sintomas da Hepatite B?
A Hepatite B provoca sintomas muito semelhantes aos de uma gripe, tais como:
- Cansaço;
- Náuseas;
- Febre;
- Perda de apetite;
- Dores de estômago;
- Diarreia.
Algumas pessoas podem ainda apresentar:
- Icterícia (a pele e olhos apresentarem uma cor amarelada);
- Fezes de cor clara;
- Urina com uma cor escura.
Contudo, algumas pessoas não apresentam nenhum sintoma.
5. Quais os testes para o diagnóstico da Hepatite B?
Para comprovar se está infectado com o vírus da Hepatite B, o médico requisita exames laboratoriais ao sangue. Estes exames permitem verificar não só se está infectado ou não, mas também conhecer a etapa ou curso que a infecção está a tomar num dado momento.
Para a Hepatite B existem 5 marcadores: 3 anticorpos e 2 antigénios específicos. Estes marcadores surgem no sangue em tempos diferentes. Normalmente, o primeiro a detectar-se é o antigénio HBs (HBsAg ou antigénio de superfície de Hepatite B), que persiste um a três meses e que demonstra a presença do vírus no organismo. A sua positividade é indicador de infecção activa aguda ou crónica, ou ainda, indica que o paciente é portador assintomático, potencialmente infectante. Um pouco mais tarde (mas por vezes ao mesmo tempo) surge o antigénio HBe (HBeAg), sinónimo de que o agente infeccioso está a multiplicar-se. É nesta fase que é mais elevado o perigo de contágio.
Só depois surgem os anticorpos e o primeiro a aparecer, em geral, é o anti-HBc (anticorpo contra o HBcAg). Aparece na infecção aguda e em portadores crónicos, é um marcador infalível de infecção, mais confiável que o antigénio de superfície; em seguida, se as defesas imunitárias do organismo estiverem a funcionar correctamente, surgem o anti-HBe, como resposta ao antigénio HBe.
Isto significa que houve uma seroconversão, a multiplicação do vírus diminuiu e, se nada alterar o curso normal, desaparece o antigénio HBs e surge o anticorpo anti-HBs, que permanece no organismo para o resto da vida e confere imunidade. A sua presença significa a resolução da doença e reflecte imunidade. É indicador de vacinação eficaz.
A presença do antigénio HBe, além das oito semanas, indica que a hepatite está a passar a uma fase crónica. A permanência do antigénio HBs, por mais de seis meses confirma a passagem ao estádio crónico. O significado e interpretação destes marcadores depende não só de cada um deles, mas da presença ou ausência de todos em conjunto e da sua relação com os dados clínicos.
A realização de uma biópsia hepática pode ser necessária nalguns doentes que apresentem indícios da presença do vírus no organismo por mais de seis meses para avaliar a gravidade das lesões do fígado. Como a infecção crónica pelo VHB é uma doença sexualmente transmissível, devem-se fazer análises para detectar a eventual presença do VIH nas pessoas infectadas.
6. Como se trata a Hepatite B?
A Hepatite B aguda é tratada com repouso e aconselha-se o doente a não consumir bebidas alcoólicas e alimentos ou medicamentos que possam ser tóxicos para o fígado.
Se a hepatite B evolui para uma doença crónica pode fazer-se o tratamento com interferão. O interferão peguilado, ou peginterferão, veio substituir o interferão clássico. O tratamento com peguinterferão dura, em geral, 12 meses e tem uma eficácia de 36 a 42%, sendo mais alta nos doentes com transminases mais elevadas e com carga vírica mais baixa.
Em alternativa, o tratamento pode ser feito com medicamentos análogos dos nucleósidos, como a lamivudina e o adefovir, que interrompem a multiplicação do vírus e estimulam a destruição das células infectadas, e que por isso têm um efeito antivírico potente mas que necessitam duma administração mais prolongada do que o peginterferão para se obterem taxas de resposta semelhantes.
Como com todos os medicamentos, os tratamentos para a hepatite B têm efeitos secundários, pelo que os doentes devem aconselhar-se com o seu médico.
Se a hepatite crónica conduzir à cirrose e esta evoluir para a insuficiência hepática, aconselha-se o transplante hepático. Contudo, no caso da hepatite B os riscos de recidiva são muito elevados, pois não existem formas eficazes de evitar a infecção do novo fígado. Normalmente, administra-se imunoglobulina anti-HBs logo após ter-se retirado o fígado do corpo e antes de inserir o novo órgão, para neutralizar o vírus que se encontra no sangue. O doente deve continuar a receber imunoglobulina anti-HBs durante vários anos, para evitar o reaparecimento do antigénio HBs.
O doente que vai receber o novo fígado não deve ter mais de 65 anos nem sofrer de uma patologia grave que afecte outro órgão como os rins, os pulmões e o coração.
7. Como me posso proteger?
Existe uma vacina contra a hepatite B que pode ser tomada por todas as pessoas, mas que não tem qualquer efeito em quem já está infectado pelo vírus. É composta por três doses que são administradas através de injecções intramusculares no prazo de seis meses e regista uma eficácia de 95%. Em Portugal, está incluída no Programa Nacional de Vacinação. Os bebés, filhos de mães portadoras do vírus, devem ser vacinados à nascença, após o que não existe risco de transmissão pelo aleitamento.
É necessário que se apliquem todas as injecções para ficar protegido. Se está para viajar para países com uma elevada prevalência de hepatite B, assegure-se de receber todas as injecções antes de viajar.
A imunidade parece ser duradoura embora limitada no tempo, não havendo necessidade de reforços, pelo menos nos primeiros cinco a dez anos de vacinação.
As medidas que também pode tomar para se proteger, a si e às outras pessoas com quem contacta, contra a hepatite B, são:
- Usar preservativo nas relações sexuais;
- Não partilhar agulhas e seringas usadas, objectos cortantes e perfurantes, nem instrumentos usados para a preparação de drogas injectáveis;
- Usar luvas e acessórios de protecção se tiver de estar em contacto com o sangue de outra pessoa;
- Não usar objectos pessoais de higiene de outras pessoas, que possam conter vestígios de sangue;
- Assegurar-se que na realização de tatuagens, colocação de «piercings» ou perfurações corporais, são usados materiais limpos e adequadamente esterilizados.
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