Prevenção da Legionella – Método de Cultura
“As bactérias do género Legionella encontram-se em ambientes aquáticos naturais e também em sistemas artificiais, como redes de abastecimento/distribuição de água, redes prediais de água quente e água fria, ar condicionado e sistemas de arrefecimento (torres de refrigeração, condensadores evaporativos e humidificadores) existentes em edifícios, nomeadamente em hotéis, termas, centros comerciais e hospitais. Surgem ainda em fontes ornamentais e tanques recreativos, como por exemplo jacuzzis.
A exposição a esta bactéria pode provocar uma infeção respiratória, atualmente conhecida por Doença dos Legionários. É importante distinguir a situação de colonização dos sistemas de água por bactérias do género Legionella, da ocorrência de um caso de Doença dos Legionários.
Não existe um valor guia para a concentração do género Legionella na água em unidades formadoras de colónias por litro (ufc/L), superior ao qual ocorre a Doença dos Legionários e inferior ao qual a probabilidade de ocorrer é quase nula.”
In: Prevenção e Controlo de Legionella nos Sistemas de Água, Instituto Português da Qualidade em parceria com a EPAL, Empresa Portuguesa das Águas Livres, SA, 2º Edição 2014.
Legionella spp | Matriz | Unidade | Condições de Referência |
Legionella spp | Água | (ufc/L) | Concentração inferior a 100 ufc/L, excepto no caso da pesquisa em tanques de torres de arrefecimento em que deve verificar-se uma concentração inferior a 1000 ufc/L. Ausência de Legionella pneumophila |
Valores de referência e ações corretivas em redes prediais
“Normalmente para as águas das redes prediais considera-se que uma análise de Legionella desfavorável do ponto de vista da operação e manutenção (quando a concentração de Legionella spp. é ≥1000 ufc/L, correspondendo a um nível de alerta) é necessário recolher novas amostras, rever o programa de tratamento de água, avaliar o risco e, caso necessário, limpar e desinfetar o sistema ou mesmo implementar tratamentos de choque químico e/ou térmico, avaliando posteriormente a eficácia das medidas implementadas.
Para valores na água inferiores a 100 ufc/L de Legionella spp., considera-se que o sistema está sob controlo, contudo estes valores não são iguais em toda a bibliografia e devem ser tomados apenas como referência.
No caso dos equipamentos de terapia respiratória, o valor é de 0 ufc/L como valor limite em virtude do risco ser enorme.”
In: Prevenção e Controlo de Legionella nos Sistemas de Água, Instituto Português da Qualidade em parceria com a EPAL, Empresa Portuguesa das Águas Livres, SA, 2º Edição 2014.
Desinfeção Química
- Efectuar a coloração da água no reservatório de armazenamento de água fria, recorrendo à adição de hipoclorito de sódio até se alcançar um valor de cloro residual livre de 20 a 50 mg/L;
Posteriormente, deverá ser feita a recirculação da água clorada em todo o sistema, abrindo sucessivamente todas as torneiras e chuveiros de extremidade até que se note um cheiro de cloro intenso;
- Fechar todas as saídas, ficando o sistema em standby durante aproximadamente uma hora para valores de cloro residual livre de 50mg/L ou então duas horas, para valores de cloro residual livre de 20mg/L;
- Efetuar análises de rotina até que se verifique ausência de bactérias do género Legionella (e de outras bactérias) e, se tal não acontecer, repetir os procedimentos anteriormente descritos;
- Perante a ocorrência de colonização da água da rede predial por Legionella pneumophila é fundamental evitar a inalação de aerossóis e, por isso, impõe-se a proibição da utilização dos chuveiros, jacuzzis, etc.
- Caso os termoacumuladores e os tanques de armazenamento estejam contaminados, há que proceder à sua desinfeção antes da sua limpeza;
- O pessoal envolvido nestes procedimentos deve ser altamente especializado e devidamente treinado, usando proteção individual de segurança.
Desinfeção Térmica
- Consiste normalmente no aumento da temperatura dos termoacumuladores ou reservatórios de água quente para valores próximos dos 70ºC e, ao mesmo tempo, fazer circular a água por todo o sistema durante uma hora;
- Nos pontos de consumo, torneiras ou chuveiros, a temperatura da água deve ser de 60ºC ou mais pelo menos durante cinco minutos após a sua abertura e de preferência nos pontos de extremidade;
- A desinfeção com calor deve ter uma frequência semanal em conjunto com a análise bacteriológica, até que se considere que o sistema já não está sob suspeita;
- Para que este procedimento seja eficaz é conveniente que o sistema de água quente esteja bem isolado e permita aumentar a temperatura em todo o sistema até 60ºC, pelo menos durante uma hora;
- Perante a ocorrência de um ou mais casos de doença dos legionários, há que seguir todos os procedimentos já abordados para as torres de arrefecimento, como recolher amostras nos pontos críticos para pesquisa de Legionella pneumophila e proceder à desinfeção e limpeza de toda a rede, recorrendo a pessoal especializado e habilitado para tal;
- Todas as ações de inspeção, monitorização, manutenção e operações devem ser registadas num manual para fácil consulta.”
In: Doença dos Legionários, Guia Prático, Direção-Geral da Saúde & Direção-Geral do Turismo, Lisboa 2001.
Valores de referência e ações corretivas para torres de refrigeração e dispositivos análogos em função das análises microbiológicas de Legionella:
Contagem de Legionella (ufc/L) | Ação Recomendada |
100<1000 | Rever o programa de manutenção e realizar as correções necessárias |
100<1000 | Proceder a nova amostragem após 15 dias |
1000<10000 | Rever o programa de manutenção, a fim de estabelecer ações corretivas que diminuam a concentração de Legionella |
1000<10000 | Proceder à análise ao fim de 15 dias. Se o resultado for <100 ufc/L, deve colher-se nova amostra após um mês. Se o resultado da segunda amostra for <100 ufc/L continua-se com a manutenção prevista |
1000<10000 | Se uma das amostras anteriores regista valores> 100 ufc/L, deve rever-se o programa de manutenção e introduzir-se as alterações estruturais necessárias |
1000<10000 | Se ultrapassa os 1000 ufc/L, deve proceder-se a uma limpeza e desinfeção (a) e realizar uma nova amostragem ao fim de 15 dias |
>10000 | Parar o funcionamento da instalação e esvaziar o sistema se necessário |
> 10000 | Limpar e realizar um tratamento profundo de acordo com o(a), antes de reiniciar o funcionamento |
> 10000 | Realizar uma nova recolha de amostras ao fim de 15 dias |
(a) Limpeza e desinfeção em caso de deteção de Legionelose |
- Clorar a água do sistema até conseguir pelo menos 20 mg/L de cloro residual livre e adicionar biodispersantes e anticorrosivos compatíveis, em quantidade adequada, mantendo os ventiladores desligados e, quando for possível, as aberturas para evitar a saída de aerossóis;
- Recircular o sistema durante 3 horas, medir o nível de cloro residual livre pelo menos de hora a hora, repondo-se a quantidade perdida;
- Neutralizar o cloro e proceder à recirculação de água de igual forma à do ponto anterior;
- Esvaziar o sistema e lavar com água sob pressão;
- Limpar as superfícies do sistema com detergentes e água sob pressão e lavar;
- Introduzir no fluxo de água cloro em quantidade suficiente para alcançar o nível de 20 mg/L de cloro residual livre, adicionando anticorrosivos compatíveis com o cloro em quantidade adequada. Manter durante duas horas verificando o nível de cloro livre, cada 30 minutos, repondo a quantidade perdida. Recircular a água por todo o sistema mantendo os ventiladores desligados e as aberturas fechadas;
- Neutralizar o cloro e recircular de igual forma como no ponto anterior;
- Esvaziar o sistema, limpar e adicionar o desinfectante de manutenção. Quando o desinfectante é o cloro deve manter-se o nível de 2 mg/L de cloro residual livre e adicionar um anticorrosivo compatível com o cloro, em quantidade adequada;
- As peças desmontáveis devem ser limpas e submersas numa solução que contenha 20mg/L de cloro de cloro residual livre, durante 20 minutos, lavando-se posteriormente com água fria abundante.
Os elementos difíceis de desmontar ou de difícil acesso, devem ser pulverizados com a mesma solução durante o mesmo tempo. No caso de equipamentos que pelas suas dimensões ou concepção não possibilitem a pulverização, a limpeza e desinfeção deve realizar-se através de nebulização elétrica;
- Posteriormente, continuar-se-á com as medidas de manutenção habituais.
Valores de referência e ações corretivas para sistemas de água climatizada de uso recreativo em função das análises microbiológicas de Legionella
Nº Legionella spp/1000mL | Interpretação |
<10^2 | Sob controlo |
≥10^2 to ≤10^3 | Efetuar nova colheita para análise e manter vigilância reforçada |
≥10^2 to ≤10^3 | Aconselhar o gestor do sistema a proceder a esvaziamento, limpeza e desinfeção |
≥10^2 to ≤10^3 | Rever as medidas de controlo e avaliação de risco; desenvolver as medidas corretivas identificadas |
≥10^2 to ≤10^3 | Após enchimento da bacia, efetuar nova análise no dia seguinte e após 2-4 semanas |
10^3 | Encerramento imediato; exclusão do público da área da bacia |
10^3 | Proceder a uma desinfeção de choque de 50mg/L de cloro livre em circulação durante uma hora |
10^3 | Drenagem, limpeza e desinfeção da bacia |
10^3 | Rever as medidas de controlo e avaliação de risco |
10^3 | Após enchimento da bacia, efectuar nova análise no dia seguinte e após 2-4 semanas |
10^3 | Manter o encerramento até ausência de deteção de Legionella e a avaliação de risco tenha dado resultados satisfatórios |
In: Prevenção e Controlo de Legionella nos Sistemas de Água, Instituto Português da Qualidade 2º Edição 2014
(Health Protection Agency (UK) “Management of Spa Pools – Controlling the Risks of Infection” March 2006.